Passar pelo tratamento do câncer é uma jornada intensa e, muitas vezes, dolorosa no corpo e na alma. Quando o diagnóstico chegou até mim, foi como se o chão abrisse debaixo dos meus pés. Em meio aos exames, consultas e procedimentos, percebi o quanto minha autoestima oscilava, dia após dia. Mas também descobri que, mesmo nas fases mais difíceis, é possível e necessário cuidar de si com carinho.
Neste texto, compartilho algumas dicas de autocuidado que fizeram (e fazem) toda a diferença para mim. Que elas também possam ser um alento para quem está enfrentando o tratamento de câncer.

O autocuidado começa com o olhar: enxergar-se com gentileza
Durante o tratamento, nosso corpo passa por muitas transformações. Perder os cabelos, ganhar ou perder peso, encarar cicatrizes… tudo isso mexe profundamente com a nossa imagem. E, muitas vezes, com a nossa autoestima. Mas o primeiro passo para lidar com essas mudanças é acolher o que se vê no espelho.
Aprendi a olhar para mim com mais compaixão. No início, isso não foi fácil. Lembro quando fiz a mastectomia com reconstrução, e o impacto visual foi imenso. Mas com o tempo, fui entendendo que cada marca contava uma história de resistência.
Dica prática: se olhar no espelho todos os dias e se permitir sentir. Não se obrigue a “amar tudo de cara”, mas sim a respeitar o processo. Isso é autocuidado também.

Pequenos rituais que fazem diferença no dia a dia
O autocuidado não precisa ser complexo ou caro. São os pequenos gestos que, somados, restauram nossa conexão com o corpo e com o emocional. Durante o tratamento do câncer, montei alguns rituais que me davam força. Eles não curavam a dor, mas acolhiam.
- Passar um hidratante com aroma suave após o banho
- Colocar um lenço bonito que combinasse com meu humor
- Fazer uma maquiagem leve, só para me ver com “cor”
- Ouvir músicas calmas enquanto descansava
- Tomar um chá quente olhando pela janela, em silêncio
Essas práticas diárias me ajudaram a lidar com a ansiedade e o estresse que, aliás, são muito comuns nesse período. Se quiser entender mais sobre isso, escrevi um post sobre a importância da saúde emocional no tratamento do câncer, que aprofunda esse tema.
Envolver o corpo com cuidado e presença
O tratamento do câncer exige que prestemos atenção em áreas do corpo que antes passavam despercebidas. No meu caso, o linfedema foi uma dessas surpresas e, com ele, veio a necessidade de ainda mais autocuidado. Falo mais sobre isso neste texto: Linfedema por câncer de mama: o que é e como devo me cuidar.
O toque pode ser uma poderosa ferramenta de reconexão. Uma auto massagem suave, o uso consciente de cremes e óleos naturais, alongamentos simples, tudo isso ajuda a reacender a intimidade com o próprio corpo.
Vale lembrar que o autocuidado não é vaidade. É um ato de amor e respeito, especialmente quando estamos tão vulneráveis.
O autocuidado emocional: abra espaço para o que você sente
Durante o tratamento do câncer, muitas vezes ouvi que eu era forte — e, de fato, em alguns momentos me senti assim. Mas também houve dias em que chorei sem parar, em que a tristeza pesava mais do que qualquer medicação. E está tudo bem.
Entender que autocuidado também é emocional foi um divisor de águas na minha jornada. Acolher o que se sente, sem precisar se justificar ou se esconder, é um ato de coragem. Medo, raiva, culpa, esperança… tudo pode coexistir. O importante é não sufocar as emoções tentando parecer “bem” o tempo todo.
Uma das práticas que mais me ajudaram foi escrever. Registrar meus sentimentos, sem filtro, me trouxe clareza e alívio. A terapia também foi essencial: um espaço seguro onde eu podia ser verdadeira, sem precisar parecer forte.
Aprendi que respeitar meus limites, dar pausa quando o corpo ou a mente pediam, e cultivar pensamentos gentis eram formas profundas de autocuidado. Não precisamos ser guerreiras o tempo todo. Precisamos ser inteiras com tudo o que sentimos.

Informação também é autocuidado
Durante o início do meu tratamento, uma das sensações mais difíceis era a de estar perdida. Eram muitos exames, nomes técnicos, medicações, efeitos colaterais — e um medo constante do desconhecido. Eu me sentia, muitas vezes, à mercê de decisões que não compreendia totalmente. Foi nesse momento que percebi: buscar informação era, sim, uma forma de autocuidado.
Ter acesso a conteúdos confiáveis me ajudou a retomar o controle da minha própria história. Eu não queria saber tudo, mas queria entender o mínimo necessário para participar das decisões com mais segurança. E, principalmente, queria me sentir menos refém do medo.
Quando li pela primeira vez sobre a importância de reconhecer os sinais do corpo e entender os procedimentos pelos quais eu passaria, minha relação com o tratamento mudou. Por exemplo, lembro de como foi esclarecedor conhecer os detalhes sobre a mamografia e suas dúvidas. Ao entender como o exame funcionava, deixei de vê-lo apenas como mais uma etapa dolorosa e passei a encará-lo como uma ferramenta de cuidado comigo mesma.
Além disso, aprender sobre os efeitos colaterais dos tratamentos me preparou emocionalmente. Saber que a fadiga era comum, que a queda de cabelo acontecia por razões específicas, que existiam formas de aliviar o enjoo… tudo isso me deu uma sensação de preparo — ainda que as emoções continuassem intensas.
Saber, entender, perguntar, questionar… tudo isso é parte do autocuidado. Informação não nos transforma em especialistas, mas nos devolve uma parte importante do que a doença tenta tirar: o protagonismo sobre nossas decisões.
Respeite o seu ritmo: você não precisa estar “forte” o tempo todo
Uma das maiores armadilhas que enfrentei foi acreditar que precisava ser guerreira o tempo inteiro. A verdade é que nem sempre conseguimos. E tudo bem.
Tive dias em que não quis me arrumar, me maquiar ou sequer sair da cama. Em outros, senti vontade de colocar brincos, pintar as unhas e sorrir à toa. Honrar esses ciclos é um ato de coragem.
Sua autoestima não precisa ser constante. Ela pode flutuar, e ainda assim ser real.
Não existe fórmula mágica para manter a autoestima elevada durante o tratamento do câncer. Mas cultivar momentos de autocuidado, acolher as emoções e respeitar seu tempo pode transformar profundamente essa jornada.
Se você chegou até aqui, saiba que te admiro profundamente. Cuidar da autoestima durante o tratamento do câncer é desafiador, mas possível — e necessário. Que cada gesto de carinho consigo mesma fortaleça ainda mais sua caminhada.
Se quiser continuar nessa jornada de autocuidado e fortalecimento, preparei uma seleção especial de livros e cursos que me ajudaram muito. A autoestima também se alimenta de conhecimento e inspiração.





